Uma semana trabalhando em conceitos para novos padrões para pagamentos na Web, com pausa para trocar uma idéia sobre dados de localização geográfica e suas variações, no Spatial Data WG. Assim foi a minha semana de trabalho no TPAC, a plenária técnica anual do W3C, que aconteceu em Sapporo (Japão) no finalzinho de outubro.
A parte mais interessante de fazer parte dos grupos do W3C que estão envolvidos no tema de Pagamentos na Web é que este é um assunto tão abrangente que atinge praticamente todas as áreas e grupos que fazem padrões na Web. A agenda do Interest Group,, o responsável por identificar necessidades de padronização para facilitar pagamentos na Web, foi recheada de apresentações de áreas complementares, como segurança, privacidade, acessibilidade, autenticação e credenciais, entre outras.
No começo, uma breve apresentação de Ian Jacobs sobre tudo que o grupo já entregou. O lançamento do Working Group de Web Payments, que vai padronizar uma API para facilitar as interfaces de checkout via navegador (ou a Payment Transaction Messaging API), foi uma das grandes conquistas do IG, que também lançou o Community Group de Interledger, com o objetivo de identificar necessidades de padronização de APIs para provedores de serviços de pagamento (como Bancos), visando facilitar a troca de informações como balanço da conta, histórico de transações, etc.
O IG também acumula cada vez mais participantes de peso. São 43 participantes de várias áreas, cada uma com pré-requisitos diferentes e em áreas complementares do sistema financeiro, entre bancos, empresas, bancos públicos, academia e fabricantes de browsers.
O primeiro destaque foi a apresentação da parceria com a FIDO alliance. As questões e necessidades relativas à segurança vão se apoiar na liderança da na padronização de solucoes de autenticacao em um novo grupo que vai ser lançado, cujo charter está em draft no GitHub do W3. Todo o trabalho de segurança e autenticação do W3C está esplicado no Roadmap para Segurança, também no Github e mostra bem a preocupação do W3C com o compromisso de tornar a Web um lugar seguro e confiável.
Uma conversa importante dentro do grupo, que se relaciona com o assunto da segurança, é a autenticação e fornecimento de identidades. Nesse quesito, as operadoras, que representam de algum modo empresas que fornecem identidades para pagamentos, tem muito interesse. A questão das várias identidades que um usuário pode assumir como comprador online também é interessante. Imagine um mundo onde o você não tem um perfil de compra apenas, mas vários: um para pagar contas de casa, outros para pagar baladas, outro para pagamentos de compras… Essa é uma questão que se apresenta em um futuro próximo. Com a facilidade de movimentar valores através de devices, a possibilidade de interoperar entre sistemas com identidades diferentes para cada fim representa a oportunidade da diversificação de negócios.
Isso nos traz ao grupo de Web das Coisas. As questões relativas à essa área foram levantadas para que a Web possa ser também a plataforma que vai permitir que você possa pagar via browser utilizando qualquer dispositivo conectado. Ou você, ou sua cafeteira, claro! A idéia aqui é criar uma interface entre o consumidor e o vendedor de modo a facilitar tanto o controle quanto a compra. Em um futuro que já é realidade, carros, eletrodomésticos e outras coisas conectadas podem cuidar de algumas compras sem que você nem perceba.
Há também uma necessidade de integrar pagamentos. Isso quer dizer que ferramentas que mostrem dados para o consumidor escolher onde prefere comprar, como prefere gastar e com quais operadoras ou merchants serão a prioridade também. Isso porque o grupo ainda discute o termo wallet como uma possível definição para essas interfaces de pagamentos.
A visão de futuro compartilhada por David Ezell, um dos chairs do Interest Group, é de que o modelo de apps aos poucos tem se tornado insustentável. A Web, nesse contexto, disponta como plataforma para integrar as funções que as apps podem executar. O usuário, além de ser poupado de ter que pagar pelo app, conserva-se de ter que fazer download de cada app para cada vendor ou merchant.
Dentro desse contexto fica fácil prever interfaces web onde o consumidor vai poder, por exemplo, escolher qual o cartão de crédito que oferece a menor tarifa para um determinado pagamento. A prioridade do grupo é sempre permitir que o usuário tenha a gama de escolhas ampliada, o que vai fazer crescer as oportunidades de negócios também para quem trabalha com a Web.
Novos negócios visando pagamentos com a Web – ou em outras plataformas digitais – visam também fazer a integração dos ecossistemas de pagamentos com os ecossistemas que trocam dados. Isso significa que o mercado vai poder oferecer integração instantânea, bem como garantir a privacidade e posse dos dados para os consumidores. A palavra que antes era Fidelização, agora passa a ser oferecimento de escolha aos consumidores.
Os sistemas de recompensa, como cartões de fidelidade por exemplo, também saem ganhando com o trabalho de padronizaçao de tecnologias para pagamento Web. Isso porque com o trabalho do w3c vai acontecer a ampliação das possibilidades de interface entre pagante e pagador. Com essa comunidação mais eficiente o usuário vai ter uma gama de escolhas maior e as empresas que oferecem pontos vão encontrar menos dificuldade para integrar as vantagens para os consumidores, que poderão interoperar dispositivos e moedas.
Importante notar que os papéis de algumas empresas se ampliam no contexto da abertura do sistema financeiros aos padrões para pagamentos Web. Com a possibilidade de empresas como o Google, a Microsoft, o Facebook ou o Alibabá, por exemplo, servirem também como intermediários de valores, vem também a possibilidade dos pagamentos p2p e a necessidade de integração entre todas as instâncias que estão envolvidas em ecossistemas financeiros.
Por fim, há uma preocupação também com os fornecedores de credenciais, que são as informações que endossam o perfil de compras dos usuários. Essas informações, também encontradas de modo abundante na web de hoje, podem ser fornecidas por empresas ou pelos usuários em atos de compra. Entidades também podem servir como fornecedoras de credenciais, tais como Instituições de ensino, hospitais, entidades governamentais, etc. Existe a possibilidade do W3C lançar também uma Comunidade, ou seja, um community Group, para tratar exatamente da troca de credenciais de usuários na Web. Aqui, o trabalho do IG faz interface também com o grupo de Web Apps, que tem trabalhado silenciosamente na direção de uma Web mais segura, garantindo a possibilidade de escolhas e a proteção do usuário.
Em suma, ainda há muito trabalho a fazer, mas muito já foi executado. O grupo de interesse em Web Payments do W3C está aberto a participação, portanto, se você tem interesse e quer saber mais, não hesite em nos enviar uma mensagem!