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Vamos publicar conteúdo aberto

Em plena quinta-feira do mês de fevereiro, a família se reúne em casa para comemorar meu aniversário. Bolo, salgadinhos e brigadeiros fazem parte da bagunça antes de cantar os parabéns. Minha neta chega em casa com o marido e seus dois filhos, o mais velho já com seus 30 anos de idade e a mais nova com 12 anos. É uma data importante que deve ser comemorada, afinal, não é todo dia que completamos 130 anos. Sim, estou falando sobre o ano de 2107.

Depois da festa, minha netinha volta para casa e resolve pesquisar o que seu bisavô fazia quando era mais novo e descobre muita coisa online. Textos sobre padrões web, acessibilidade, dados abertos, W3C, etc. Mas algumas informações ela não consegue localizar. O sistema de busca atual não tem acesso a uma rede social de 80 anos atrás e minha bisneta nem tem um e-mail para fazer login. Alias, ela nem vai querer entrar nessa rede social tão antiga. Seus amiguinhos não fazem parte dessa rede.

A brincadeira com as datas, parentes e a idade (afinal nem sei se chego aos 130 anos) reflete uma preocupação importante: Será que o conteúdo que publicamos online hoje estará disponível para as futuras gerações? Será que o material produzido hoje estará aberto e será encontrável?

Digo isso porque outro dia encontrei no Internet Archive um portfólio em Flash que criei em 2000 e que ainda está disponível online. Interessante saber que esse material ainda pode ser localizado, mas possivelmente minha bisneta não conseguirá localizar essa informação, visto que a quantidade de dispositivos que não darão suporte a essa tecnologia daqui 80 anos será infinitamente menor. Para uma tecnologia fechada e proprietária se manter forte por tantos anos não será uma tarefa fácil.

Outro ponto a se considerar é onde publicamos o nosso conteúdo online. Certas redes sociais facilitam o acesso e a relação entre as pessoas, mas muito do material que você publica exclusivamente em redes fechadas pode nunca mais ser localizado no futuro. Quem não tiver acesso a essa rede social pode não conseguir acessar aquele conteúdo que ficou enclausurado por um login e senha. O jovem de 2107 pode até se interessar em vasculhar informação para construir sua árvore genealógica, mas ter que criar um ID para isso vai ser muito chato. Muito 2013.

A Web vai mudar muito nos próximos 80 anos e por isso mesmo temos que lutar para que ela continue aberta. Publicar conteúdos em formato livre, que seja possível de ser localizado não só por ferramentas de busca, mas por pessoas nos mais diversos dispositivos. Temos que considerar que as tecnologias vão evoluir, mas o material que eu publiquei em formato aberto há anos não será perdido por causa de uma tecnologia que foi descontinuada.

Mas e o futuro da Web? Há alguns anos essa discussão surgiu com um texto da revista Wired de que cada vez mais estamos na internet e não na Web. Respondendo a essa matéria, Tim Berners-Lee publicou um ótimo texto na Scientific American sobre o futuro da Web. A Web faz parte das nossas vidas e muitas vezes nem percebemos isso. Ela vai evoluir e mudar, da mesma forma que todas as tecnologias vão mas ela vai manter seu princípio de ser livre e aberta. Quando Tim Berners-Lee menciona em seu texto as ameaças à Web, a justificativa de mantermos o conteúdo aberto é simples:

“Por que você deveria se importar? Porque a Web é sua. É um recurso público que você, sua empresa, sua comunidade e seu governo dependem.” (Tradução livre)

Talvez para a minha bisnetinha um tablet pode ser algo muito “retrô” para se usar, mas com certeza ela terá algum dispositivo de acesso as informações em rede. Para que ela saiba quem foi e o que o bisavô dela fez na vida eu continuo a publicar conteúdo livre e aberto na Web.

Faça você também essa reflexão: Será que seus bisnetos conseguirão saber quem você foi e o que você fez com as informações que você publica hoje?

Foto de perfil do Reinaldo Ferraz, vestindo uma camisa branca
Publicado por Reinaldo Ferraz em 26 de julho de 2013

*Versão original publicada no Blog do W3C Brasil